em conversa com a minha mãe, dizia-lhe que atualmente as relações são estranhas. Parece que as pessoas namoram porque tem de ser, porque cai bem, porque ate têm algo em comum...Como diz, e bem Miguel Esteves Cardoso, "parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria."

Custa-me acreditar que hajam amores assim, que acreditam que não demonstrar amor e afeto em três, cinco ou sete anos de relação é normal, que é uma questão de personalidade da pessoa em questão. Eu diria que é falta de amor, de amor verdadeiro, aquele que nos faz ir para o meio da rua gritar e dizer a toda a gente o que quanto se está apaixonado.

"(...) Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?  (...) Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade."

O amor deixou de existir no verdadeiro sentido da palavra. As pessoas já não têm tempo para amar ou para serem amadas. Centram-se apenas nelas e esquecem que amar é tão ou melhor que aquela cerveja gelada num dia quente de verão.